Negro e Índios na Colonização do Brasil

O Brasil e Sua História.

Inicio este texto com apresentação de alguns trechos da carta de Pero Vaz de Caminha que indica os possíveis interesses dos futuros colonizadores.

A um trecho que na Carta de Caminha que acredito indicar os interesses dos colonizadores. Há uma frase que caracteriza a busca por metais precioso, visto que, menciona claramente esta busca. “Todavia um deles fitou o colar do Capitão, (...) como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata...”.


Em outro trecho é mais claro ainda quanto a esta busca e diz: “Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata, ou outra coisa de metal, ou ferro...” e continua em outro paragrafo da carta dizendo, “por mais coisas que a gente lhe perguntava com respeito a ouro”.


Já na parte final da carta conclui afirmando que é possível imprimir “facilmente neles (Índios) qualquer cunho que lhe quiserem dar”, por se tratar de um povo dócil e sociável.

Quanto a terra alude que “...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”. Há em um outro ponto da Carta que também trata da necessidade da catequização deste povo para salvá-los.

Assim, parece-nos que o interesse dos colonizadores é a busca por ouro e prata, mas também avaliam a possibilidade de aproveitar a terra pela sua fartura de água, tanto quanto, a conversão-catequese dos nativos para salvá-los para Deus.

Assim, o primeiro contato com os nativos, de acordo com os relatos de Caminha, foi positivo, no entanto, durante o processo de colonização, essa visão passou por alterações significativas.

O nativo começa a ser percebido pelos seus vícios e deve ser convertido com violência, para ser purificado. Porém, é importante discutir a ideia de "mal” que existe na Europa nesse momento.

Conforme Santo Agostinho existe uma intensa luta do "bem" contra o "mal”. O diferente sempre foi associado ao mal pelo ocidente cristão. Assim, a conquista da América estaria dentro dessa luta: o europeu teria como missão divina acabar com o mal do Novo Mundo, expulsar o demônio dessas terras.

O índio puro de Caminha transforma-se em “malicioso”; o índio hospitaleiro transforma-se em canibal; o índio que aceitaria facilmente o cristianismo torna-se “endemoniado”. Dessa forma, não tardou o controle e a punição às heresias, à idolatria e ao canibalismo. Os desregramentos sexuais, o canibalismo e as superstições demonstravam as ligações entre os índios e Satã. Essa visão tornou-se predominante a partir do final do século XVI.

Mesmo não sendo responsáveis pelo mal em si, os nativos deveriam ser punidos e purificados. Para a salvação seria necessária à expiação dos pecados (humilhação, humildade, trabalho). Para tanto, temos uma verdadeira “Cruzada” contra o mal na América. Os jesuítas, em especial, formam um poderoso exército para combater e expulsar o demônio dessas terras, mesmo que isso significasse a morte de milhares de nativos.

No processo de colonização do Brasil, os negros e os Índios passaram por um processo semelhante. Os católicos percebem na África, também, uma forte ação do demônio. Os negros, quando embarcados em direção ao Brasil, são batizados e tem início a salvação de suas almas. Posteriormente, temos um processo de catequese na colônia.


Colonização do Brasil:

No início da ocupação, os Portugueses não tinham o objetivo de povoar, mas a partir da segunda metade do século XVI, as regiões tropicais passaram a ser ocupadas e exploradas.

No processo de colonização do Brasil, um dos produtos a ser explorado na colônia foi o pau-brasil. O escambo foi o instrumento para a exploração dos nativos, que em troca, de facas, espelhos, etc... cortavam e transportavam o pau-brasil. Neste período ainda não temos a escravidão.

O principal grupo indígena no território recém-conquistado eram os tupis. Porém, como o passar do tempo descobre-se o canibalismo em vários grupos – entre eles os tupinambás – a crença em mitos e símbolos – associados pelos jesuítas ao mal, leva a escravidão dos índios.

A partir de 1530, os colonizadores buscam novos produtos. Sem encontrar ouro ou prata, passam para agricultura - plantio de cana para produção de açúcar. A nova estrutura de produção necessita de mão de obra e os índios são capturados e escravizados.

Mas, como o nativo não se adaptava ao trabalho escravo e em 1570 a escravidão de indígenas é proibida, exceto por "razões justas", os portugueses começam a utilizar-se de escravos negros, que posteriormente se torna um grande negócio para os Portugueses, que importam e vendem estes escravos.

Assim, os portugueses iniciam a importação de escravos vindos da África, visto que, a escravidão já existia na África. Portanto, a escravidão negra, ao lado da empresa açucareira, foi determinante para o enriquecimento e fortalecimento do Império Português.

Na escravidão indígena, não há geração de lucro para Coroa. Assim ela é proibida. Portugal lucrar com o tráfico negreiro. Em alguns momentos da história o lucro com o tráfico é superior à produção de açúcar.

O Brasil recebeu mais de cinco milhões de negros ao longo de três séculos. Os negros foram submetidos a maus tratos, péssimas condições de moradia, higiene e trabalho forçado.

No Brasil, a expectativa média de vida durante o cativeiro era de doze anos em média. Isso ocorria em função da grande exploração no trabalho, punições exageradas, alimentação escassa e pouco variada - basicamente feijão, farinha e rapadura.


As Resistências de Nativos e Negros:

Os nativos, porém, nem sempre aceitaram passivamente a evangelização, reagiam de forma violenta ou deturpavam os ensinamentos. Com relação aos negros, a situação não foi muito diferente.

A própria religiosidade negra não foi completamente abandonada com o processo de conversão ao cristianismo. Ocorreu, em muitos casos, um sincretismo religioso e, também, foi muito comum à manutenção dissimulada de práticas pagãs.

Tanto indígenas, quanto negros, tentam manter suas tradições culturais. Nem sempre isso foi possível, mas sempre existiu como forma de resistência. Utilizaram-se de várias possibilidades para reagir à escravidão. Existem inúmeros relatos de fugas, de suicídios e também, as ações violentas de negros e Índios contra seus senhores, contra seus opressores.

Quanto aos negros temos a resistência mais visível que foram os quilombos que, foram a principal forma de organização dos negros fugitivos, uma espécie de aldeamento de escravos fugitivos. Aliás, quilombo e mocambo, na língua Banto, significam acampamento. Temos exatamente isso: acampamentos de negros, que criam mecanismos de defesa, de produção e de subsistência.


A Catequese e a Religiosidade Afro-Indígena:

O processo de conversão e catequese contribuiu não apenas para o massacre físico, mas também cultural dos indígenas e negros no Brasil colônia.

Os europeus representados pela Igreja, com o “exercito” dos jesuítas que vieram para o Brasil, segundo as suas concepções expulsar o demônio destas terras, através dos tribunais da inquisição provocaram um verdadeiro massacre sobre os povos nativos e escravos negros.

A perseguição implacável sobre os caraíbas (pages) e as praticas do candomblé, impondo severas punições como a escravidão aos índios, os castigos físicos aos negros que por vezes lava a morte, os que não se convertiam, junto com as benesses fornecidas aos convertidos, levaram ao esquecimento muitos elementos da cultura indígena, já os negros através do sincretismo religioso conseguiram preservar muitos elementos de sua religiosidade, mas também os quilombos tiveram papes fundamental na preservação da cultura afro.

A religiosidade negra não foi completamente abandonada com o processo de conversão ao cristianismo. Ocorreu, em muitos casos, um sincretismo religioso e, também, foi muito comum à manutenção dissimulada de práticas pagãs.

Quanto à escravidão dos negros, temos a resistência mais visível que foram os quilombos que, foram a principal forma de organização dos negros fugitivos, uma espécie de aldeamento de escravos fugitivos. Onde a prática da religião e da capoeira se torna comum, sendo está segundo utilizado com defesa.

Índios e Negros tinham práticas religiosas ligadas a cultuasão dos antepassados, das forças da natureza como deuses, a crença no magico, na sobrevivência da alma, na dança e na música como elemento rítmico e ritualístico nas celebrações religiosas. 


O Povo Brasileiro:

No Livro O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, tem uma passagem muito interessante onde à autora diz: "Os brasilíndios ou mamelucos paulistas foram vítimas de duas rejeições drásticas. A dos pais, com quem queriam identificar-se, mas que os viam como impuros filhos da terra (...). A segunda rejeição era do gentio materno”. Visto que, “na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o macho deposita sua semente. Quem nasce é filho do pai, e não da mãe”.

Deste modo “não podendo se identificar com uns nem com outros de seus ancestrais, que o rejeitavam, o mameluco caía na terra de ninguém, a partir da qual construía sua identidade de brasileiro” (P. 108-9). Com relação aos negros a situação não é muito diferente, pois, também existia a ideia de inferioridade nessa mistura. Daí surgem os vários projetos, no século XIX, para "branquear" a raça brasílica.

Verdadeiramente o povo brasileiro não é inferior, porque, “não há, nunca houve, aqui um povo livre, regendo seu destino na busca de sua própria prosperidade”. Pois sim, o que temos e sempre tivemos no Brasil é “uma massa de trabalhadores explorada, humilhada e ofendida por uma minoria dominante” que busca a satisfação de seus desejos, seja com o trabalho escravo no passado e/ou com a exploração do trabalho capitalista do agora.

Equivocadamente as teorias do século XIX, aludem uma suposta inferioridade que não se justifica, pois está fundamentada em costume e valores herdados dos portugueses e outros povos que colonizaram o nosso país, com afirma Holanda, citado por Ribeiro, que não seriam nossas as características, mas herdamos dos iberos, “o desleixo, ...o espírito aventureiro,  ...gosto maior pelo ócio do que pelo negócio”.

Ainda continua o autora dizendo desta “mistura de todos esses ingredientes, resultaria uma certa frouxidão e anarquismo, a falta de coesão, a desordem, a indisciplina e a indolência” (Ribeiro, 2004). Assim, não é o povo brasileiro inferior, mas sim, as características e valores que herdamos de nossos colonizadores, bem como a rejeição de nossos primeiros pais (Índios e Negros) que compõem a nossa personalidade com as qualidades e defeitos que possuímos.

A obra de Gilberto Freyre – Casa Grande e Senzala – contesta mitos como o de inferioridade do brasileiro, por exemplo, afirma que a mistura foi positiva, criou um povo forte e único. Derruba o mito da superioridade da cultura europeia e mostra, pela primeira vez, o papel de negros e mulatos na história e na cultura brasileira.

Para este autor, a pintura “O Mulato” de Portinari, representa sua ideia de povo brasileiro, que desbravou o sertão, que construiu uma nação, esse é o verdadeiro brasileiro - forte.

Freyre tem uma grande importância na destruição do mito de inferioridade do povo brasileiro. No entanto, criou novos mitos, por exemplo, o mito da democracia racial, visto que, acreditava que existiram certa proximidade e docilidade nas relações escravistas.

Acredito que a obra de Freyre é um divisor de águas em nossa história. Principalmente porque ela trata da identidade do povo brasileiro e o coloca como um povo forte – pujante.

Mas, a grande questão que se coloca é se, efetivamente, vivemos em uma democracia racial, se o brasileiro se vê como um povo mestiço, e se não existe, entre nós, racismo e preconceito.

O conceito de democracia racial traz a ideia de que, no Brasil, não existe preconceito racial, todos são iguais. Negros e brancos convivem dentro de uma certa ordem, com relativa proximidade. O que em minha opinião não é verdadeiro, pois, o preconceito é velado e não só contra negros, mas sim, contra os pobres também.


Para terminar nossa pequena reflexão:

Destaco alguns trechos do poema de Castro Alves, onde o ator busca pela identidade destes escravos, reflete sobre suas origens e liberdade e, ao final se posiciona indignado com a situação posta e invoca os heróis da historiográfica positivista, mas sabemos que também os Negros são sujeitos históricos, vejamos o que segue abaixo:

“Quem são estes desgraçados; Que não encontram em vós; Mais que o rir calmo da turba; Que excita a fúria do algoz? Quem são?São os filhos do deserto; Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto; A tribo dos homens nus...; São os guerreiros ousados; Que com os tigres mosqueados; Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão. . .

Lá nas areias infindas; Das palmeiras no país; Nasceram crianças lindas; Viveram moças gentis...; Ontem plena liberdade; A vontade por poder...; Hoje... cúmulo de maldade; Nem são livres pra morrer...; Prende-os a mesma corrente; — Férrea, lúgubre serpente —; Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte; Dança a lúgubre coorte; Ao som do açoute... Irrisão!...

Existe um povo que a bandeira empresta; Pra cobrir tanta infâmia e covardia! E deixa-a transformar-se nessa festa; Em manto impuro de bacante fria! Meu Deus! meu Deus! Mas que bandeira é esta; Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. Musa... chora, e chora tanto; Que o pavilhão se lave no teu pranto! Mas é infâmia demais! Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! Arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!”

Assim, a história do Brasil foi forjada, com uma igreja que afiançou a escravidão, de negros e índios, porque isso facilitaria a catequese – suposta salvação.  Desta forma Igreja e Estado andam de braços dados nesse processo de escravidão, conversão e enriquecimento. Portanto, para aqueles que aceitam a conversão as graças da igreja, no entanto, aqueles que não aceitam ou deturpam os ensinamentos são punidos violentamente.

Fonte: Texto elaborado a partir do material e das reflexões realizadas na Graduação de História que estou realizando na UNISA Digital.